Sede de Infinito

13/10/2012 20:51

 

Me atrevo a uma pequena reflexão sobre como vivemos nossos dias. Fazemos muitas coisas durante o dia, mas no fim nada fazemos. Portanto, o que buscamos tanto? E quando encontraremos e onde encontraremos? O que é esta sede de eternidade que carrego dentro de mim? “O meu mundo não é como o dos outros… Quero mais, exijo demais. Há em mim uma sede de infinito” (Clarice Lispector)

Santo Agostinho em suas Confissões já dizia que o coração humano não sossega enquanto não encontra Deus: “fizeste-nos para ti e inquieto está nosso coração, enquanto não repousa em ti.” E isso faz pensar que muitas coisas podem ser utilizadas para tentar enganar o coração, mas não podem substituir o proprietário deste espaço. Portanto, diante da inquietação do coração humano é preciso buscar Aquele que pode preenchê-lo e não se perder por propostas superficiais e vazias.

O homem moderno vive um frenesi diário. Muitas coisas ocupam as horas do seu dia. De tal forma que os dias lhe parecem cada vez mais curtos. Mas qual é a ocupação do homem? Nos nossos dias temos muitos afazeres, mas poucos dão sentido à vida. Podemos dizer como Jesus disse a Marta, quando indignada pela passividade de Maria aos pés do mestre. Maria escolheu a melhor parte (Lc 10, 38-42). E nós, o que temos escolhido? Temos tido tempo para Deus e para nós mesmos, ou estamos muito ocupados com as ocupações cotidianas?

A virulência hodierna, ou seja, as agitações diárias têm o poder de nos afastar de Deus, deixando-nos entregues a nós mesmos com nossas fraquezas. Muitos atrativos, mas nenhum que ofereça um sentido para a vida. Percebe-se, dessa forma, um sentimento de vazio, profundo vazio no homem da sociedade contemporânea. Especialmente, os jovens. Olhar para a juventude dos nossos dias e vê-la entregue a uma vida fútil mostra-nos o quanto à vida apresenta-se-lhe sem sentido, ou se têm é algo de valor reduzido e até efêmero, que se esvazia nos dias vazios que vive .

Como o Santo de Hipona nos recorda, Deus colocou no homem o desejo de O conhecer, porém o homem tem buscado constantemente ocupar-se de outras coisas. Mas nada pode ocupar o Seu lugar. Assim, o desespero toma conta da vida. “Não tivesse o homem consciência eterna, se um poder selvagem e efervescente produtor de tudo, soberbo ou fútil, no torvelinho das obscuras paixões, pudesse existir só no imo de todas as coisas; se debaixo delas se ocultasse infinito vazio que coisa alguma pudesse encher, que seria da existência senão desespero?” pergunta o filósofo dinamarquês Kierkergaad. Em poucas linhas ele mostra-nos o caminho que estamos tomando em nossas vidas.

Transformamo-nos na sociedade do superficial, do efervescente, procuramos nas paixões puramente humanas saciar a sede de infinito do nosso coração. Contudo como o próprio santo de Hipona concluiu: Não podemos nos saciar com aquilo que é passageiro e provisório, que hoje é e amanhã não. Só Deus pode nos saciar e nos preencher, assim devemos busca-Lo onde ele pode ser encontrado. Seguindo a trilha de santos, como Agostinho, podemos chegar onde chegaram. Que Deus, Único necessário, nos ajude nesta caminhada para que possamos cada vez mais considerar tudo lixo diante da graça de tê-Lo (Fl 3,8).

 

Sem.Frederico Ornelas - 3º de Filosofia do Seminário Maior de Brasília 


Crie um site grátis Webnode