“Escutando, conhecendo e procurando viver a Palavra salvaremos nossas almas” (cf. Tg 1, 21)

01/09/2012 11:08

 

Planaltina, 02 de setembro de 2012

XXII Domingo do Tempo Comum

Leituras: Dt 4, 1-2.6-8/Sl 14(15)/ Tg 1, 17-18-22.27

Evangelho: Mc 7,1-8.14-15.21-23

 

 

“Escutando, conhecendo e procurando viver a Palavra salvaremos nossas almas”

(cf. Tg 1, 21)

 

            Amados irmãos e irmãs, há muitos que se perguntam: será que Deus continua a nos falar? Indubitavelmente afirmamos que sim, Deus não nos abandonou à solidão da nossa existência, Ele continua a nos falar de modo sempre atual na sua Palavra que é “viva e eficaz” (cf. Hb 4,12). É escutando, conhecendo e procurando viver a palavra que salvaremos nossas almas e nos libertaremos da contaminação do espírito do mundo.

            Conhecer a palavra não se trata de adquirir um aparato técnico para realizar exegeses profundas, mas encontrar-se com Cristo e colocar-se numa comunhão profunda de vida com Ele. Aqui conhecer é amar, é permanecer, é estar com. Não se trata de acumular um conjunto de conceitos sobre a palavra é estar com a própria Palavra, é conviver com ela. “Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo” (Deus Caritas est, 01). São Jerônimo já afirmava: “Ignorara as Escrituras é ignorar o próprio Cristo”. Desprezo pela Palavra é desprezo para com Jesus Cristo.

            Uma vez que me encontrei com Jesus Cristo na palavra, à medida em que Deus me fala por meio dela, tenho que deixá-la moldar a minha vida, para ir formando em mim o mesmo espírito de Jesus Cristo: “Haja entre vós o mesmo sentir e pensar que no Cristo Jesus” (Fp 2, 5). Na palavra eu encontro Jesus Cristo e tendo O encontrado Nele me encontro.

            A palavra conhecida e meditada nos abre o caminho para a vivência da verdadeira religião, aquela que leva a doar-se a Deus por inteiro nos irmãos, sobretudo nos que mais sofrem. “A religião pura e sem mancha diante de Deus Pai é esta: assistir os órfãos e as viúvas em suas tribulações e não se deixar contaminar pelo mundo” (Tg 1, 27). A palavra prepara, forma a pessoa para ser toda de Deus, para estar em comunhão com os irmãos e lhe purifica o coração da contaminação do mundo.

            Por isso, quando desconhecemos a palavra podemos até afirmar da boca para fora ‘sou de Deus’, mas nunca me dou por inteiro a Ele, porque meu coração está distante. Sem a palavra nos damos por inteiro ao mundo e para Deus oferecemos apenas algumas migalhas que sobram de nós, quando sobram. Esta é a contaminação do mundo.

            O espírito mundano impõe ao homem uma agenda cheia, pesada, exigente que o conduz ao esvaziamento à partir de dentro, à partir do coração. E uma pessoa com coração vazio é como barco sem vela, caminha na desorientação. Todo sábado à noite tem que sair com os amigos, embriagar-se, fornicar, mentir, explorar a sensualidade, chegar em casa exausto, dormir até o meio dia de domingo e, se der certo, vou à Eucaristia mau humorado, aos cacos. Vou aos eventos do mundo e participo de tudo o que ele me propõe, vou à casa de Deus e participo pelas metades. Pois a contaminação com o espírito mundano me oferece coisas que me impedem de participar plenamente da festa maior na casa de Deus – a Eucaristia.

            Por fim, para o mundo me dou por inteiro, não importa as consequências. Para Deus dou as migalhas que sobram de mim de qualquer jeito. Enquanto Jesus Cristo se dá por inteiro a nós na Eucaristia e na palavra. A palavra hoje nos chama a uma inversão, a uma conversão que nos leve a dar-se a Deus por inteiro e ao mundo somente as migalhas. Assim salvaremos nossas almas.

 

 

Pe. Hélio Cordeiro dos Santos