“A fé é decidir estar com o Senhor, para viver com Ele” (cf. PF, 10)
XXIV Domingo do tempo comum
Leituras: Is 50, 5-9/Sl 114 (115)/ Tg 2, 14-18
Evangelho: Mc 8, 27-35
“A fé é decidir estar com o Senhor, para viver com Ele” (cf. PF, 10)
Amados irmãos e irmãs, a recepção da fé no batismo marca para cada pessoa o início da vida eterna. De modo que a fé tem sua fonte originária em Jesus Cristo que através da Igreja chama os homens ao ato de crer. A fé é uma porta que se abre para que cada pessoa possa percorrer um caminho juntamente com seu Senhor. Um caminho que o conduzirá à vida eterna. E se é na Igreja que eu recebo o dom de crer, é também nela que eu devo aprofundar e nutrir a minha fé, sobretudo na Eucaristia. Sem pertença concreta e efetiva à comunidade não existe fé verdadeira.
A fé verdadeira consiste em “decidir estar com o Senhor, para viver com Ele” (cf. Porta Fidei, 10). Eu não posso estar com o Senhor se não estou em comunhão com os outros discípulos seus. Pois a fé antes de ser expressa por palavras deve ser professada na vida. A fé não pode confundir-se com um ente de razão que não produz repercussão nenhuma na vida do crente.
A fé que salva é aquela que opera pela caridade, “Que adianta alguém dizer que tem fé quando não a põe em prática? A fé seria então capaz de salvá-lo?” (Tg 2, 14). A grande maioria dos católicos pensam que ter fé se reduz em ir à igreja quando vai batizar os filhos, para casar, para uma missa de 7º dia, de formatura e assim por diante. Sem se preocupar em aprofundar a vivência da fé recebida no batismo, para estes ‘Deus é um mágico’ que com alguns ritos em algumas etapas da vida o conduz à salvação.
É bem verdade que os ritos sacramentais são importantes, mas se as sementes de vida eterna que eles nos oferecem não encontram terra boa onde possa germinar, quem os recebe fica privado da graça salvadora que eles comunicam por si mesmos. Uma falsa compreensão da fé leva consequentemente há uma vivência errada da mesma. Quantas pessoas vivem a sua fé como se ela fosse um instrumento para resolver problemas cotidianos, e não como uma porta que se abre para a vida eterna. A fé é uma adesão a Deus e àquilo que Ele revelou de si. Portanto, a fé é uma jornada que me leva encontrar Jesus Cristo e permanecer com Ele.
Pelo contrário, hoje há uma mentalidade reinante de que a fé é procura de si mesmo, quando não da satisfação de si mesmo. Daí a origem da visão deturpada do seja a Igreja, de considerar que ela não é importante, pois não estou à procura de Deus, mas à procura de bem estar. E se alguém me oferece isto como menos exigências é para lá que eu vou. Assim, nem sempre prática religiosa é sinal de verdadeira fé. Pois se o objetivo da minha vivência religiosa é a satisfação dos meus desejos e necessidades, aí não existe nada de fé.
Dada esta mentalidade, não é à toa que os pecados da apostasia e da indiferença andam na moda. A apostasia para aqueles que abandonam a fé recebida no batismo para se aventurar na mais atraente oferta de satisfação de si mesmo que bate à sua porta, se esquecendo “que há um só batismo” (cf Ef 4, 5). A indiferença para os católicos que só se lembram do caminho da igreja quando precisam de algum sacramento.
Por fim, diante de tantos pecados e descasos com a fé, “é tempo de decidir estar com o Senhor, para viver com ele”. É tempo de “renunciar-se a si mesmo” (cf. Mc 8, 34) para estar com o Senhor. Renunciar à preguiça que nos impede de nos colocar à serviço da Igreja nos seus trabalhos, na sua missão pastoral. O homem e a mulher de fé entendem que a missão da Igreja é também sua. Quando permanecemos com os braços cruzados é sinal que nossa fé ainda não amadureceu o suficiente. Aqui entendemos o porquê das nossas assembleias estarem cheias, mas falta gente para catequizar, para anunciar, para preparar as celebrações. Isto se dá porque falta fé.
Pe. Hélio Cordeiro dos Santos.